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Associado de Valor
31/05/2024



Quando, em 1987 foi criada a empresa NSI – Nordinfor Soluções Informáticas, havia apenas duas empresas do ramo em Bragança. A empresa, especializada na implementação de soluções de hardware e software, assistiu à democratização no acesso às soluções informáticas e também à escalada brutal da concorrência, nem sempre justa, nem sempre leal. 

Trabalhar no setor empresarial é sempre desafiante e uma luta constante pela sobrevivência e afirmação. Quando em 1987, o empresário Jorge Gomes criou a NSI-Nordinfor-Soluções Informáticas, eram apenas duas empresas do ramo a trabalhar em Bragança. É certo que não havia a procura nem a necessidade que há hoje de informatização dos negócios, o caminho tinha de ser desbravado, com muita resistência face ao desconhecido, mas também não havia a oferta ilimitada de soluções que atualmente surgem no mercado. Alexandre Cruz, atualmente o proprietário da empresa, ingressou na Nordinfor como funcionário no ano que a empresa abriu. Trabalhava na parte técnica e, após quase três décadas ao serviço da casa, juntamente com outro companheiro, adquiriu a empresa em 2014 a Jorge Gomes, acabando, em 2016, por assumir o negócio sozinho. Numa visão retrospetiva o empresário refere que os níveis de dificuldade em manter o negócio sustentável e próspero aumentam a cada ano. “Atualmente, só em Bragança, há 14 empresas do ramo registadas”, aponta como uma das razões que tornam o negócio a cada dia mais difícil. “Depois há quem venda hardware e software sem ter casa aberta, não têm os custos de estrutura e conseguem preços mais baixos, há ainda as soluções online, com as quais não conseguimos concorrer e, não menos preocupante, as grandes superfícies com preços e condições impraticáveis para nós”, aponta. Estas são as condições de contexto em que se move, insistindo diariamente em alertar os potenciais consumidores, sobretudo os clientes empresariais, para os riscos de comprar “online” ou a vendedores que não possuem uma porta aberta, “onde o cliente se possa dirigir quando tem um problema, uma avaria nos equipamentos, necessidades de atualizações, ou qualquer outro assunto que exija a intervenção imediata de um técnico”, refere. Há os clientes fieis e que nas suas prioridades de compra colocam as palavras “confiança e proximidade”. Mas a maioria das pessoas atualmente prefere “o barato”, até porque a nível tecnológico as soluções são cada vez mais transitórias. No setor dos consumíveis, que também tem um peso significativo nas vendas da empresa, o mercado caiu vertiginosamente. “Aí sim, verificamos que muita gente compra online, mesmo que às vezes o produto que recebe não seja exatamente aquele que queria comprar”, comenta. A venda de portáveis, por exemplo, já é insignificante para a Nordinfor. “Neste campo são as grandes superfícies que nos anulam, sobretudo para a consumidor doméstico. Têm campanhas promocionais agressivas e depois modalidades de pagamento que nós não conseguimos, mesmo trabalhando com linhas de crédito, raramente conseguimos aprovar um crédito para a uma empresa que acabou de nascer ou para um cliente que está desempregado ou em situação financeira mais frágil”, explica. O que ainda conseguem vender são os portáteis recondicionados, procurados por clientes individuais, uma área de negócio que as grandes superfícies ainda não agarraram com muita agressividade. “Basicamente nós trabalhamos com empresas e instituições, não só na área da venda de produtos, na prestação de serviços, mas também no aconselhamento e na consultoria”, refere. Este é o caminho que Alexandre Cruz privilegia para manter o negócio. “Nós analisamos cada cliente, cada situação especifica, apresentamos as soluções que consideramos mais adequadas, implementamo-las e continuamos aqui para os acompanhar diariamente e resolver todas as necessidades que vão surgindo”, explica. E com a evolução da tecnologia também aumentaram as exigências dos clientes. Antigamente poucos tinham conhecimento para instalar programas básicos como o Windows ou o Office, “chegávamos ao cliente implementávamos as soluções, explicávamos como funcionava e o cliente não saía dali, fazia tudo sempre certo sem causar problemas, as soluções implementadas duravam anos sem necessidade de intervenção”. Atualmente a simples atualização do Windows, que acontece com uma frequência quase semanal, pode interferir noutras soluções que tenham de interagir com este programa e o técnico de suporte do sistema tem de estar constantemente atualizado e disponível para fazer as necessárias atualizações e adaptações para que tudo funcione sem constrangimentos. “O cliente dá muito mais trabalho”, afirma. 

O Estado que nos angústia 

A Nordinfor não está em estado de angustia, mas Alexandre Cruz sente-se frequentemente “angustiado pelo Estado”. “É conversa diária entre colegas, até de ramos diferentes, as exigências que o Estado coloca sobre o empresário são agoniantes, estamos sempre na esperança de que a situação melhore, mas infelizmente só piora”, desabafa. O peso da burocracia, a carga fiscal, as exigências para manter uma porta aberta são cada vez maiores e mais honrosas, ao mesmo tempo que a concorrência, que agora chega por via digital, aperta e as margens de lucro se esmagam. “Trabalhamos, basicamente, para o Estado. Vivemos momentos de desânimo, na certeza de que não podemos desistir, esta é a nossa vida, mas a motivação não existe”. Os comerciantes, que vivem basicamente dos consumidores locais, sentem que este setor de atividade que é o que faz crescer e desenvolver a cidade, não é valorizado pelas pessoas. Os empresários criam postos de trabalho, contribuem para a fixação da população, cumprem com todas as suas obrigações com o Estado (de outra forma rapidamente têm de fechar as portas), têm um papel económico e social fundamental, nas comunidades onde estão inseridos. “Mas poucas pessoas têm essa consciência, vivemos numa sociedade cada vez mais individualista, andamos preocupados com a nossa vida e com o nosso bolso, e não temos visão coletiva, de comunidade”, remata. Neste cenário cinzento, Alexandre Cruz, como tantos outros comerciantes, remata a conversa com um sorriso que, por teimosia ou necessidade, ainda denota força e garra para continuar a abrir a porta diariamente, continuar a bater à porta dos clientes, definir estratégias para atingir outros mercados e dizer: “desistir nunca”.